A pressa dos meus passos
Já perdi a pressa dos meus passos
pois a estrada e a viagem sou eu
entre partidas e chegadas
sorrisos e lágrimas
o caminho faz-se dentro de mim
e tudo o resto é nada
Não me defino pelas metas
traçadas pelo mundo que não me vê
nem pelas correrias medidas ao segundo
não tenho pressa nem certeza de nada
apenas do dia em que nasci
Não preciso de provar a minha razão
demanda vã neste mundo alienado de compreensão
a vida moldou-me, fez-me barro nas suas mãos
e a serenidade que caiu
tantas vezes em forma de orvalhos
regou a minha essência
enquanto a dureza dos dias,
sabiamente amoleceu o meu coração
Já perdi a pressa dos passos
pois um dia aprendi
que não há caminho mais longo
ou viagem mais sentida
do que aquela que me leva a mim
eu sou o principio e o fim
Não procuro mais nada
para além da verdade de saber-me inteira
e em mim, não há maior vontade
do que descrever em poesia
os rostos singulares dos que amo
cinzelados pelas estações da ilha
os olhos genuínos e calorosos
dos que me veem com amor
e que me fazem sentir em casa
em qualquer lonjura do mundo
(Patrícia Brandão)