São seguidos, no Hospital do Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, três utentes com doença de Pompe. Um problema de saúde de origem genética, raro, debilitante e progressivo, que leva ao enfraquecimento dos músculos.
Em pleno Dia Mundial das Doenças Raras, Marina Couto, médica neurologista, naquela unidade de saúde, em entrevista à Atlântida, explica que o organismo não consegue produzir, em quantidade suficiente, a enzima alfa-glucosidase ácida (AGA) que desempenha um papel essencial na transformação do glicogénio, substância responsável por dar energia ao nosso corpo. A falta daquela enzima leva à acumulação de glicogénio nas células musculares, conduzindo ao seu enfraquecimento.
A especialista revela que os três doentes que acompanha no hospital de Ponta Delgada são irmãos.
A responsável refere que por ser uma doença genética, tem de haver dois progenitores com esse problema. Nestes casos, o pai tinha Pompe e a mãe era portadora.
Marina Couto adianta, ainda, que a doença tem duas formas de apresentação: a clássica, em que os sintomas surgem nos primeiros meses de vida, referindo que os bebés não conseguem, por exemplo suster a cabeça e os braços e as pernas são moles, sendo a doença mais grave, por a enzima, praticamente, não ter qualquer ação e atinge, também, o coração; e a tardia, que só atinge os músculos do resto do corpo, pode ter início mais precoce, entre os dois anos e a adolescência, e mais tardio, em idades entre os 50 e os 60 anos. Contudo, quanto mais precoce são os sintomas, mais grave é a doença.
A médica neurologista revela que a doença de Pompe é das poucas doenças raras que tem tratamento “exclusivo e dirigido para estes utentes”, explicando que consiste em repor a enzima que as pessoas não têm à conta da sua alteração genética. Refere que esta enzima foi conseguida artificialmente e é reposta por via endovenosa, adiantando que estes doentes vão ao hospital de dia daquela unidade hospitalar, de 15 em 15 dias, receber a alfa-glucosidase ácida. Marina Couto diz, ainda, que aqueles utentes são, também, acompanhados pelos serviços de cardiologia e de pneumologia, sendo que, neste último, fazem provas de função respiratória, por este problema de saúde afetar os músculos que usamos para respirar.
A especialista frisa que com os tratamentos verificam que há um “atrasar da progressão da doença”. Refere, ainda, que os estudos apontam para uma diminuição da mortalidade em 59% nos adultos e que cada oito anos de tratamento vai prolongar a esperança vida dos doentes em mais ou menos um ano.
Sobre o diagnóstico, Marina Couto afirma que há alguns anos era “mais complicado”, porque tinham de realizar uma biopsia muscular para verificar a atividade da enzima. Hoje em dia, o diagnóstico é “muito mais fácil”, a que chamam de “gota de sangue seco”, explicando que é parecido com o teste do pezinho, onde têm um cartão com três círculos que são preenchidos com uma gota de sangue do doente, que consegue concluir se a pessoa é ou não portadora de Pompe.
Hoje, assinala-se o Dia Mundial das Doenças Raras, que tem como finalidade sensibilizar o público e decisores políticos para as doenças raras e o seu impacto na vida dos doentes e famílias.
Em Portugal, estima-se que existam cerca de 600 a 800 mil pessoas portadoras deste tipo de doenças.
Fonte: Rádio Atlântida